quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Coragem para parir

Texto lindo de: Marcelly Ribeiro

Quando estava grávida e dizia que ia fazer parto normal as pessoas exclamavam de olhos arregalados:  “você é louca!”
Depois que minha filha nasceu, em casa, em um parto natural maravilhoso e transformador os olhos arregalados permaneceram mas a frase mudou
 para “você é muito corajosa” e muitas vezes além do corajosa vinha acompanhada um “mas é porque você faz yoga”.
 Eu sempre achei e falei que corajosas são essas mulheres que agendam  uma cesária eletiva, se submetem a uma cirurgia de médio porte, com mais riscos para mãe e bebê, separação quase que instantânea de seu bebê e recuperação muito dolorida e geralmente complicada. Para isso sim, eu acho que precisa coragem. Porém, depois da minha experiência e de ter acompanhando alguns partos como doula pude compartilhar histórias de  mulheres maravilhosas, que fizeram movimentos enormes em busca de seus partos e pariram belas e guerreiras, e começei a refletir…
Onde está, ou talvez pra que, exatamente, coragem? Quando as pessoas falam em coragem  para fazer um parto normal estão se referindo principalmente à dor das contrações, e também ao tempo de trabalho de parto sentindo essa tal dor que ninguém consegue descrever e que é quase insuportável.
Outras falam que é preciso coragem para superar o período expulsivo e permitir que  um bebê saia por sua vagina a deixando larga (o que muitas pessoas  acreditam ser verdade).
Quando falo que já vi mulheres em trabalho de parto mais serenas do que pessoas no trânsito, muitos não acreditam. Então cheguei à conclusão que sim, é preciso coragem para parir. Mas  não exatamente para enfrentar a dor e sim o que ela representa dentro de nós. Coragem para desconstruir essa idéia de dor e experiência  horrível, arraigada dentro da maioria das mulheres.
Não exatamente  pelas longas horas em trabalho de parto e sim por estar disposta a ficarali presente, paciente e vulnerável essas horas. Não exatamente por que vão ficar “largas” mas por aceitar que seus corpos vão se transformar depois do parto. Sem a neurose de ficarem lindas, em corpos perfeitos com “cara de 20 anos” para o resto da vida.  E principalmente é preciso  coragem para ir de encontro ao desconhecido entrar em contato conosco. Como se olhássemos pelo espelho e pudéssemos ver quem realmente somos.  Não apenas aquele corpo e aquela fisionomia. E sim nossa alma, nosso verdadeiro EU.
O parto é um evento que integra corpo físico, mental e espiritual e na nossa sociedade não damos muita atenção aos aspectos emocionais de uma mulher em trabalho de parto. As pessoas que estão assistindo o parto, na maioria dos casos estão preocupadas apenas com a saúde física e fisiológica da dupla mãe/bebê deixando de lado o bem estar emocional de ambos. Muitas vezes as pessoas da equipe estão mais preocupadas mesmo com  a hora de ir pra casa depois daquele parto.
Então também é preciso  coragem para buscar uma equipe que esteja disposta a enfrentar essa jornada junto com a gente. E estabelecer uma relação menos passiva com o médico para que ele também tenha certeza de que você é capaz.
É preciso confiar na nossa natureza. Se deixar perder o controle. Deixar vir das profundezas de nosso ser questões que ficam adormecidas por muito tempo e muitas vezes temos resolver ali mesmo, na hora de dar a luz. É também  aceitar que não temos o controle de nada e se deixar levar pelas ondas  do processo.
A contração é mesmo com uma onda que começa devagar,  aumenta, tem um pico e vai embora, dando-nos tempo para se recuperar. É uma experiência tão poderosa que requer muito preparo emocional, na minha opinião, mais do que físico. Por isso quando ouço que consegui um  parto natural por que faço yoga, concordo. Porém, não por que meu corpo é mais flexível ou “preparado” pelo yoga e sim pelo que ele me ensina, que não é físico. Parir conscientemente significa se entregar. É preciso coragem para querer parir.
Para terminar gostaria de reproduzir uma mensagem de uma querida aluna de yoga. Dessas corajosas que conhecemos por aí
"... aprendi a respirar, a relaxar. Aprendi a aceitar meu corpo e a vida, que não podem ser controlados ou programados. A perceber e sentir meu corpo com carinho, com calma e agradecer a Deus pela perfeição que é a natureza feminina, pronta para gerar e trazer ao mundo uma nova vida. Vou levar esses ensinamentos pra sempre, tanto pra mim quanto para meu filho, sempre buscando informação, com os olhos atentos e com a consciência de que não é preciso ficar na fila da “normalidade”. 
Questionar, verificar, pesquisar, não tem nenhuma contra-indicação. E no final das contas, meu sorriso de contentamento vai atingir pessoas à minha volta.”
Namastê!
Fonte: Blog das Mamíferas

Nenhum comentário:

Postar um comentário