Você já pensou nisso?

Bem vinda, você, que por uma razão ou outra veio parar aqui.

É grande demais a minha responsabilidade em querer passar a você tanta informação importante, que na minha caminhada nesse mundo da maternidade eu conheci e aprendi.
Foi uma longa caminhada e ainda está sendo... mas não posso deixar de comentar o quanto eu pude ampliar meus horizontes e me abrir para coisas tão grandes, intensas e transformadoras. Agradeço a autoras muito especiais e muitas delas desconhecidas, que dedicaram seu tempo, suas histórias e suas palavras para ajudar tantas mulheres que jamais conhecerão. Muitas se tornaram parte da minha jornada e hoje vivemos uma rede entrelaçada de mãos que se uniram para ajudar e dar apoio a  você que merece todo o melhor nesse momento tão lindo e importante na vida de uma mulher.

Minha conversa especial vai girar em torno de um ponto: O PARTO e dar algumas voltas em alguns assuntos relacionados para finalmente chegar até VOCÊ novamente e ao seu bebê. Partindo do final para o começo, você e seu bebê hoje são o objetivo principal, embora o parto seja a questão em destaque.

Você um dia sonhou ter um bebê, ou pode ser que não tenha sonhado ou planejado tanto assim, mas de alguma forma agora ele está aí dentro e você se tornou uma pessoa infinitamente mais importante. Pode se acostumar, isso não é só agora que ele está aí dentro de você. A partir do momento que a gente gera um filho assume uma importância e uma responsabilidade sem tamanho. Não estou falando de educação, de dinheiro ou gastos, ou de futuro. Estou falando de uma importância que não é vista ou palpável ou estimada... é algo que se sente de repente, muito sem esperar ou se ter pensado a respeito, no meio da noite ao estar com seu bebê no colo simplesmente mamando ao peito e olhando para você com olhos de uma profundidade imensa e inabalável, ou quando já mais tarde, ele com 2 anos se assusta com algo e num olhar rápido te alcança e te pede: "mamãe me dá a mão" e se acalma, ou ainda, depois dos 10 anos ele vem ter uma conversa de adulto com você e te ensina coisas que você jamais imaginou que existiam. E esses pequenos momentos de eternidade acontecem esporadicamente no seu dia-a-dia, consolidando um sentimento incrível, que pode ser chamado de amor, gratidão significado ou até mesmo todos esses nomes junto. Você nunca experimentou nada parecido e é algo assustadoramente encantador.

De qualquer forma, ter um bebê na barriga é um marco. Você e as outras pessoas se importam mais, ficam mais alegres e animadas, fazem planos, planejam mudanças, preocupam-se com o futuro, fazem escolhas. É uma ótima hora para se alimentar bem, cuidar da saúde, evitar o que faz mal, descansar, até mesmo ser mais cuidada e mimada. Depois que o bebê nascer, todo esse carinho especial será destinado a ele, "merecidissimamente".
Pronto, estabelecemos em total acordo um ponto de partida e um ponto de chegada. Vamos conversar sobre essa caminhada então.

Por que o parto é tão importante?
O parto é o evento do nascimento, a gestação toda é praticamente voltada em "para quando o bebê nascer".
E o que acontece no nascimento?


"Após 9 meses, aproximadamente 280 dias, 40 semanas ou 9 luas o bebê finalmente está pronto para nascer. O feto, completamente formado desde as 12 semanas, levou todo este tempo para crescer e amadurecer dentro do útero. No final da gravidez ele dá sinais que está maduro, após os pulmões ficarem completamente maduros, é produzido surfactante, que cai no liquido amniótico e inicia-se o trabalho de parto. Sua circulação é inundada de hormônios que sinalizam o nascimento iminente. As contrações uterinas massageiam o seu corpinho e dão a noção do ritmo. Finalmente, a passagem pelo estreito canal de parto comprime o tórax do bebê, auxiliando na saída do líquido amniótico presente em seus pulmões, boca e narinas. O bebê nasce, e enquanto permanece ligado à placenta pelo cordão umbilical que pulsa não há pressa em respirar. Nos braços da mãe, ele conhece o novo espaço, espirra, tosse e finalmente respira. Às vezes chora vigorosamente, às vezes apenas resmunga. Em alguns minutos, os pulmões expandem, a circulação fetal deixa de existir e a placenta não é mais necessária. O cordão umbilical para de pulsar e pode ser cortado. Enquanto isso, mãe e filho se reconhecem, trocam cheiros, o som do coração da mãe acalma o bebê, que lentamente começa a procurar o seio. Depois de mamar, o bebê adormece e descansa por um longo período, se recuperando dessa grande jornada..." (cont).


Esse é o processo natural e fisiológico, que respeita o corpo da mulher e do bebê, fazendo essa transição de vida tão importante.
O que acontece, enfim, é que isso não está sendo respeitado como finalização do processo da gestação.  O que tem ocorrido em massa então, é que a partir das 38 semanas faz-se uma cirurgia chamada cesareana para retirar o bebê da vida intra-uterina. Como podemos ler na continuação do pequeno texto que foi colocado um pouco mais acima da Neonatologista Ana Paula Caldas:


"A sequência descrita acima foi planejada pela natureza ao longo de milhares de anos de evolução. Infelizmente, este processo fisiológico não é respeitado na maioria das maternidades brasileiras. Aproximadamente 40 % dos bebês da rede pública e 80% da rede privada nascem através de cesariana. Grande parte deste número – principalmente na rede privada- correspondem às cesarianas eletivas (aquela marcada por conveniência do médico ou da mulher ). Nestes casos, o bebê não sabe que vai nascer. Não foi avisado pelo trabalho de parto, não recebeu os hormônios necessários, não sentiu o ritmo das contrações nem passou pelo canal de parto. Frequentemente estava dormindo no momento do nascimento. Tem que passar de feto a gente que respira em segundos. Seus pulmões, boca e nariz estão cheios de líquido amniótico. Só resta ao bebê aterrorizado a opção de chorar para expandir os pulmões e concluir à força o processo de transição.


A criança é levada a um berço aquecido, onde é vigorosamente enxugada.Geralmente o pediatra introduz uma sonda em sua boca e narinas para aspirar as secreções. A criança é pesada, medida, classificada e identificada. Rapidamente é apresentada à mãe, que não pode segurá-lo porque tem as mãos presas na mesa cirúrgica. O bebê então é levado ao berçário, onde é colocado em um berço aquecido, observado pela família através de um vidro. Ali ele recebe um colírio de nitrato de prata, cujo objetivo é prevenir uma eventual conjuntivite pela bactéria causadora da gonorréia. É provável que suas pálpebras fiquem inchadas e doloridas em consequência do colírio. Ele recebe ainda uma injeção intramuscular de vitamina K, medicação usada para prevenir um distúrbio de coagulação. Através do vidro do berçário observamos o recém nascido, sozinho no berço aquecido. A agressão sensorial foi tamanha que muitos dormem, exauridos. Outros choram e se debatem, observados pela família orgulhosa.. Algumas horas depois, o banho. O recém nascido é lavado com água morna, na banheira ou sob a torneira da pia. É preciso lavá-lo e remover qualquer vestígio de sangue ou vérnix. É necessário que ninguém perceba que o bebê nasceu de um útero, lugar cheio de mistérios. A criança é vestida e finalmente será amamentada. A mãe recebe o pequeno estranho... que sequer viu nascer através dos panos estéreis da cirurgia. O pequeno estranho não tem seu cheiro, aliás cheira a algum produto químico. O pequeno estranho está sonolento, porque durante o período fisiológico de vigília estava no berçário. Depois de algum esforço, afinal consegue mamar. A natureza felizmente continua sábia e é através da amamentação que a mãe e o pequeno estranho vão enfim criar vínculos.


Eu vou partir do suposto de que você não saiba o que está acontecendo no Brasil, ou não tenha se atentado ainda para a gravidade da situação. Não tenho o menor interesse em querer fazer mudar de ideia uma pessoa que já esteja decidida quanto à sua escolha de parto, ou jamais irei questionar "motivos" ao se escolher a cesareana, ainda mais quando for uma indicação por motivo de saúde. Meu intuito aqui é alertar e informar as mulheres de que anda acontecendo algo muito grave e sério no sistema de saúde atual, na conduta da maioria dos médicos e inclusive na visão geral do senso comum, que está sendo deturpada pelo excesso de tecnologia desnecessária, pela falta de clareza e falta de ética médica.

Vou me direcionar a 2 situações bem específicas:

1a. situação: Você escolheu a cesárea. Que você saiba tem essas 2 opções. Entre o parto normal e a cesárea você pensou e decidiu. Os médicos fazem tranquilamente. Sua mãe, suas amigas, sua vizinha, sua cunhada fizeram. Foi ótimo, algum incômodo ou outro, mas a recuperação nem demorou tanto e logo se esqueceram da dor. Na hora marcada foram para o centro cirúrgico, anestesia certeira, processo rápido, corte preciso, pontos discretos, tiraram o bebê, mostraram para a mãe, beijinho rápido, tiraram foto, levaram para o berçário, mãe devidamente costurada e medicada. Bebê levado para longe da mãe, não mamou, não sentiu, não cheirou. O bebê volta horas mais tarde e vocês estão "prontos" pra se conhecer.  

O que está faltando: Muita informação e escolhas conscientes.

Você sabe o que é uma cesárea? Como ela é feita? Quais são os riscos? E como é para o bebê?
Fatores que reforçam a escolha da cesárea eletiva:

1) Remuneração. Os médicos estão ganhando mal pelo parto normal sim, não compensa fechar o consultório para te acompanhar tantas horas no parto. Outra, o sistema médico está cada vez mais contaminado pelas cesáreas eletivas / agendadas (aquelas feitas sem necessidade de saúde), dessa forma, a maioria só faz cesareana, pouco sabe ou pouco tem interesse em procurar saber do parto normal. Para eles não tem problema se você teve que passar por uma cirurgia para retirar o bebê, ou se o bebê não teve o primeiro contato com o mundo externo de uma forma acolhedora. Em breve vocês irão para o quarto e poderão cuidar disso. Acredito que todos os outros fatores partiram daqui. Uma vez que os médicos viram a possibilidade da cesárea como algo para ganhar mais dinheiro em menos tempo, passaram a disseminar essa cultura cesarista.

2) Mitos. Infelizmente, a maioria usa desculpas para convencer uma mulher que a cesárea é melhor. Há uma lista imensa das indicações mentirosas para cesárea e meu objetivo não é colocá-la aqui, mas são algumas desculpas: bebê grande, bacia pequena, falta de passagem, falta de dilatação, pressão alta, circular de cordão, não teve trabalho de parto (a gestação normal pode chegar a 42 semanas), pouco líquido, muito liquido, etc, etc, etc. Outra forma de dissuadir uma gestante é dizer que a cesárea é mais segura, que é rápida, que não tem a dor do parto, que o parto normal pode ser muito demorado ou sofrido, que hoje em dia você "não precisa mais passar por isso".

3) Senso Comum. Devido a grande proliferação de falsas indicações para cesárea, todo mundo fez e todo mundo faz e é assim que procedemos aqui. Umas histórias melhores, outras piores,  e entre feridos e sobreviventes todos aqui estamos. 

4) O comodismo nosso de cada dia. Eu quero operar tal paciente dia 23 às 7 horas da manhã no hospital X.  A essa hora não pego trânsito e já posso confirmar minha agenda do dia. De lá já passo para ver a fulana que operei ontem e passar na enfermaria para reservar a data para a ciclana. Vou correndo para o consultório e atendo as 18 pacientes do dia, mas ainda dá tempo de sair e dar uma passada no aniversário do joãozinho. / Eu quero ter o parto dia 23. É aniversário da minha mãe e quero fazer essa homenagem. Um dia antes já marquei salão de beleza e deixei a mala e as lembrancinhas todas datadas no porta malas do carro. Posso avisar todo mundo, inclusive minha família lá do interior de barbacena que poderá vir para assistir o parto. 

5) Falta de informação. Ninguém, praticamente ninguém sabe dos riscos que está correndo. É óbvio que suas amigas ou sua mãe também não sabiam e é mais óbvio ainda que seu médico não comentou com você. Afinal, risco de desmame precoce, infertilidade posterior, depressão pós-parto, ou 2 dias na UTI não matam ninguém. Qual o problema? Cada um com os seus.


2a. situação: Pode ser que você queira "tentar o parto normal". Então você faz seu pré-natal direitinho pelo convênio com aquele médico muito bom e que você gosta muito. Ele é ótimo e te dá muita segurança, além disso ele é renomado, é referência no melhor hospital da região e é muito competente. Quando você fala sobre o parto ele quase não te abertura ou concorda vagamente de que o parto normal é "melhor". Mas afinal você confia nele e além do mais a escolha do parto é um direito da gestante. Quando você chega nas 38 semanas ele te diz que o bebê é grande, ou que você é pequena, ou que sua pressão está um pouco alterada, ou que o bebê tem circular de cordão, ou que não há sinais de trabalho de parto ou você não tem dilatação. E que é indicado fazer uma cesárea pois seu bebê pode estar em risco. Ou que: "até podemos esperar mais", mas ele não recomenda. Ou ainda que o parto normal é tão demorado ou sofrido e que a cesárea hoje em dia é tão melhor e mais prática. Além disso, todo bebê a partir das 38 semanas está pronto para nascer, inclusive você pode escolher uma data que mais lhe convenha.
Isso tem nome e apelido: enrolação, comodismo, ambição, ou inclusive falta de escrúpulos e bandidagem.
Você pode até continuar com seu médico, mas se você quiser realmente parir, vai precisar de outras cartas na manga.

Agora vamos aos fatos. Em média, em São Paulo 90% de cesareanas são feitas no setor privado. Pesquisas mostram que de 70 a 80% das mulheres quiseram "tentar o parto normal". Hoje parto normal é tão difícil de conseguir que até os médicos ou mesmo as mulheres quando vão se referir ao tipo de parto dizem "tentar" o parto normal. Infelizmente a maioria não consegue. Não é um defeito de fábrica das últimas 2 gerações, é praticamente um impedimento ditatorial mesmo. Enquanto a OMS defende apenas 15% de partos cirúrgicos (que seriam as necessárias mesmo). A formação dos médicos é cesarista mesmo, e os poucos que se aproximam um pouco do "parto normal" acabam utilizando técnicas e condutas não apropriadas realmente a um parto satisfatório.

Além de respeitar o tempo próprio do bebê e recebê-lo com muito acolhimento e aconchego (forma que NÃO ACONTECE nas cesáreas), saiba: Sete razões para escolher o Parto Normal (clique aqui)

Mas o mais importante de TUDO é: "Como conseguir realmente um parto satisfatório". Leia aqui:
7 Passos REAIS para conseguir um parto


Se você é uma dessas mulheres que QUEREM O PARTO NORMAL há uma pequena caminhada à sua frente, "um pouco" cansativa talvez (isso vai depender do quanto de murro em ponta de faca você quiser dar, ou seja há caminhos mais fáceis), "um tanto" injusta ou irritante mas EXTREMAMENTE gratificante e transformadora.  Ter a autonomia do seu corpo e de suas escolhas e ser a protagonista do seu parto, receber seu filho com a certeza de que ele está pronto e teve todos os benefícios que o processo natural e fisiológico reservou para ele, além de poder acolhê-lo no seu colo, no seu calor, com as mãos livres, sem remédios, cortes ou dores desnecessárias, num momento indescritível de aconchego e amor NÃO TEM PREÇO. 
            

Informe-se muito, participe de grupos que incentivam o protagonismo da mulher e a humanização do nascimento. Isso não é moda, fanatismo ou romantismo exagerado. Surgiu da necessidade em se buscar um chão para essas mulheres que foram e estão sendo violentadas e desrespeitadas enquanto mulher, enquanto mãe, enquanto ser humano. Surgiu da evolução do homem e da inteligência em  utilizar a tecnologia quando e de forma necessária e aceitar a natureza e todos os benefícios do processo natural uma vez que não há nem haverá jamais nenhuma máquina que possa ser tão completa, tão bonita, tão sábia e tão capaz quanto o nosso corpo.

Leia também: O parto não é um evento da medicina (clique aqui)

Eu pensei muito a respeito desse texto, da forma como eu iria escrever, o que e como falaria. Tive medo de ser direta demais e pegar você muito despreparada. Parei, ponderei. Não podia ser de outro jeito. Há anos atrás, quando comecei a fazer esse "trabalho" de orientação eu procurava ser mais sutil, não "invadir espaços" ou até mesmo não desiludir ninguém. Nesse tempo todo eu vi muitos sonhos irem por água abaixo, muito gato ser vendido por lebre e muita gente ferida saindo com cara de feliz na foto. Fichas que caíram muito tempo depois e aí não havia mais salvação, a não ser a aprendizagem. Eu tentei avisar mas o que eu enxergava era além do que outros olhos podiam enxergar. Foi vendo uma infindável repetição de mesmas histórias e mesmos erros que eu  fui percebendo que não intervir antes que tudo estivesse perdido era também parte do problema.
Além do mais, não há palavras que possam descrever a gratidão de poder fazer parte de finais felizes. De saber que para aquela pessoa você fez a diferença.

Se você tem medo, se você não tem apoio, se você tem dúvidas, procure ajuda.
Me escreva, me procure, eu posso fazer esse elo e te ajudar a buscar o melhor.
Ao contrário do que muita gente diz, não deixe para pensar DEPOIS no parto. Pense agora, você tem tempo e muitas possibilidades para se preparar. O parto deve ser sim, conhecido e pensado. É importante você conhecer o Parto humanizado, saber qual a diferença, saber o que quer e principalmente o que você não quer no SEU PARTO.
Um bom começo é entender: Parto Normal ou Parto Natural? (clique aqui)

Para finalizar, eu espero que você seja muito feliz na sua gestação e no seu parto. Espero que você possa conhecer e aprender muito, assim como eu, e que esse aprendizado te traga uma experiência maravilhosa.




Olha eu aqui e minha cara de "sofrimento" em trabalho de parto ativo.




Esse momento não tem preço...  acolher seu filho com carinho e respeito ao nascer...





Com carinho,
Marcela Buchalla.






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