sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Boas vindas, só que não... É isso mesmo o que eu quero??

Esta semana começou a circular um vídeo de um recém nascido que chamou muito a atenção, todo mundo se referindo como lindo, milagre, emocionante, etc. O bebê acaba de nascer e demonstra que não quer sair de perto da mãe, estende os bracinhos em sua direção enquanto é levado para longe. A mãe, na mesa cirúrgica, após a cesariana, sem nem ao menos poder pegar o filho no colo. Para mim, tão defensora do acolhimento e do vínculo entre mãe e bebê no nascimento, o sentimento ao vê-lo foi de dor, pena, tristeza. Gostaria que todo mundo parasse um pouco para refletir sobre o que achamos tão normal na nossa realidade e aceitamos que façam a nós e a nossos filhos num momento tão especial e único que é o do nascimento deles.
O texto que acompanha o vídeo é, no mínimo, curioso.

"Incrível, um bebê recém nascido acaba de nascer e já não quer deixar a sua mãe, observe que ele mal chegou ao mundo e quer estar pertinho dela. 
Tá aí um vídeo que não se vê todos os dias. Tudo o que ele queria era ficar abraçadinho com a sua mãezinha, apesar de ela estar imobilizada na mesa de cirurgia, ficou um pouco difícil para ela retribuir esse amor, mas se nota que ela fala com ele. Espero que todos gostem do vídeo." (Blog A Força das Palavras)


Esta é a cena que representa nossa realidade obstétrica, mães atadas à mesa cirúrgica, imobilizadas, e bebês recepcionados sem a menor sensibilidade, acolhimento e calor. Retirados do útero sem aviso prévio, muitas vezes prematuramente (mesmo um bebê a termo, fora de trabalho de parto significa que foi nascido antes da hora), manipulados por estranhos através de gestos bruscos e mecânicos e passando por diversos procedimentos desnecessários, invasivos e muito doloridos. Isso tudo em seus primeiros minutos de vida, em seu primeiro contato com o mundo exterior. Algo assim: Boas vindas, só que não...
Ninguém se coloca no lugar do bebê, que passou 9 meses quentinho, acolhido, no escurinho e no aconchego de sua mãe e é recebido desta forma. Não puderam ter nem ao menos um tempo para se olharem, se cheirarem, se tocarem. No lugar do colo da mãe mãos estranhas, no lugar do calor humano berço aquecido. Em seguida, é levado para longe, enquanto chora, se debate e todo mundo acha lindo, admirável como o bebê é forte ou bravo. Vai voltar para os braços da mãe muitas horas depois, após momentos nada agradáveis com desconhecidos no berçário do hospital.

Ao contrário do que diz o texto, que "isso é algo que não se vê todos os dias", essa é a cena que se vê todos os dias, a todas as horas, por qualquer motivo e principalmente sem nenhum motivo nas maternidades brasileiras. Mulheres estão deixando de dar à luz a seus filhos e deixando de viver a experiência mais marcante e especial para ambos para se permitirem a essa invasão e insensibilidade num momento que deveria ser unica e exclusivamente carregado de cheiros, toque, calor, afeto e reconhecimento.


Os profissionais que defendem a humanização do parto e nascimento dizem: "A não ser que haja algum risco muito sério, jamais deve-se separar mães e filhos no nascimento. Se precisar de alguma intervenção ou procedimento, fazer no colo da mãe. Bebês que são levados para longe da mãe, em procedimentos dolorosos, tem seu nível de cortisol aumentado em 10 vezes mais."

Ao contrário, bebês que nasceram através de condutas humanizadas (termo tão falado hoje em dia mais ainda tão mal compreendido), tiveram seu momento de nascimento respeitado, foram acolhidos, abraçados, amamentados e puderam ficar em contato permanente com seus pais, regulam melhor a temperatura corporal e a saturação de oxigênio, demonstram muito mais tranquilidade, menos choro e tem muito menos chances de problemas na amamentação, pois tiveram o estímulo de sucção nos primeiros instantes após o nascimento (momento de vigília do recém nascido. Após isso entra num estado de latência e dorme profundamente).

A realidade NUA E CRUA estampada. Aqui ninguém posou para a foto. Qual imprinting (registro, marca, uma "janela" que acontece no momento do nascimento e tem efeitos no vínculo mãe-bebê) queremos deixar?

 

 

 

Você, óbvio, quer dar boas vindas ao seu bebê... Existe essa opção. Não deixe para depois, pois esse momento não volta mais. O parto humanizado é opção sim, para todos. Hoje é possível buscar esse modelo de assistência, dentro das mais diversas realidades. Com apoio profissional adequado, seguro, amparado e embasado em evidencias científicas e pesquisas atuais no mundo todo e nos melhores modelos obstétricos mundiais. 
Você quer saber mais sobre parto humanizado? Pergunte-me como.

Fica aí uma questão muito importante para se refletir. Que tipo de recepção queremos dar a nossos filhos? Que tipo de experiência queremos viver no parto?
E ainda mais: quais serão as consequências futuras de procedimentos tão invasivos, medicalizados e intervencionistas? 
Que tipo de valores, sentimentos e tendências estamos incentivando em nossa sociedade?

“A Civilização começará no dia em que o bem estar dos recém-nascidos prevalecer sobre qualquer outra consideração”.
" Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer". 

Assista o filme, documentário recorde nas bilheterias, já lançado em DVD, muito emocionante e esclarecedor:
"O Renascimento do Parto - o Filme"

Leia também:

Quais os procedimentos-padrão que TODOS os bebês passam dentro dos hospitais e maternidades brasileiras? Leia:




Um comentário:

  1. Eu tb quase chorei com aquele vídeo... Infelizmente essa é a realidade da maioria dos bebês, né? E, de forma desnecessária...

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