quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Que os finais tristes possam fazer começos felizes

Nessa minha nem tão longa jornada no mundo da gestação e do parto já pude conhecer muitas, muitas histórias. Foram relatos maravilhosos e mágicos que me trouxeram para este mundo da partolândia, vontade de visitá-lo também e, inclusive, agora de voltar lá. A vontade que tenho de voltar lá, hoje, é maior do que a que tive de conhecer, sabendo o que me espera e tendo a possibilidade de aplicar o que aprendi. Trago na bagagem  minha experiência, os prós, os contras e outras informações que conquistei nessa continuidade da minha jornada.
 Infelizmente, conheci também muitas histórias tristes, que de alguma forma viraram feridas em mim também. Talvez por eu também, como qualquer outra mulher, ter desejado um parto legal, uma história bonita, apoio de quem confiei meu corpo. Posso me colocar no lugar dessa mulher desrespeitada, enganada, machucada, que carrega dores que vão além do físico, e que infelizmente vão doer para sempre.
Cedo um espaço do meu coração para uma ferida que não é minha, mas dói também em mim, para que muitas vozes caladas e choros abafados possam serem ouvidos através de minha boca e de minhas palavras.
Muitas dessas mulheres violentadas de alguma forma, sequer sabem do que foram vítimas, muitas sequer tem auto-estima ou auto-confiança para exigirem valer seus direitos. É uma tristeza e indignação que se transformam em força para mover o mundo e deixar esperança para as próximas gerações.
Vai desde a famosa cesárea por motivo fictício até grandes traumas causados por péssima assistência. Ouvir tanta gente falando que queria ter tido parto normal, mas que no caso dela não foi possível por um motivo pra lá de duvidoso assim como mulheres que tiveram sim um parto normal, repleto de violência e desrespeito, revolta e machuca. Os médicos de convênio não vão fazer o parto, e depois da primeira cesárea as casas de parto não aceitarão pois encaixa-se em fator de risco e ninguém quer recorrer ao SUS que leva não boa fama e com razão. Tenho muitas, muitas mesmo, amigas, conhecidas, ou apenas histórias que ouço aqui e ali sobre gente que passou por isso. 
Tenho tanta pena de ouvir histórias assim, de mulheres que foram literalmente tapeadas com motivos absurdamente irreais ou induzidas a acreditar que a cesárea seria a melhor opção por seus médicos, pessoas que deveriam ser de pura confiança e transparência. Chego a me arrepiar com a frase: eu confio no meu médico, ele sabe o que é melhor e tantas e tantas vezes o desfecho foi uma cesárea eletiva, sem nem sequer ter acontecido indícios de trabalho de parto.
Pior do que isso, ainda acho, quando a mulher consegue ter o parto normal, mas totalmente desrespeitoso. A que foi enganada com uma cesárea goela abaixo, tem seu parto roubado, fica aquela sensação de revolta, de perda, mas isso pode inclusive motivá-la a buscar realmente subsídios para ter um parto de verdade. A moça que teve um parto normal sofrido, muitas vezes pode ficar tão machucada a ponto de não querer mais passar por isso. Chegou para parir sem nenhuma informação, sem nem imaginar o que é, como é e principalmente quais são seus direitos nesse momento, sofrendo uma batelada de intervenções desnecessárias e prejudiciais, que podem além de colocar em risco o bem-estar dela e do bebê, causar muitas dores tanto física quanto emocionais.
Lembro-me com detalhes da minha última semana de gravidez, passando no caixa do mercado, a moça me viu com o barrigão e puxou assunto, disse que tinha muita vontade de ter outro filho, o dela já tinha 10 anos, mas não tinha coragem pelo que sofreu no parto. Eu falei para ela: Imagina, vale a pena, vai ser diferente. E ela foi categórica: Não, eu gostaria muito, mas foi muito sofrimento.
E eu chego a encher os olhos de lágrimas por pensar que tanta violência acontece com uma mulher no momento que era para ser o mais lindo da vida dela. Encho os olhos por pensar em mim também, no  - pouco - que sofri e que só foi pouco graças ao tanto que eu me preparei e estava informada. Não foi maravilhoso, mas não foi traumático, e isso já é suficiente para contentar tanta gente... 
Posso contar em detalhes tantas histórias "ruins" que conheci, muitas delas bem perto de mim, como a de 9 amigas íntimas num período de menos de 2 anos que queriam parto normal e "não conseguiram". A maioria delas, consciente hoje de que foram enganadas, 3 delas inclusive, enganadas na primeira vez, tentaram o parto normal na segunda gravidez. 2 não conseguiram por falta de médico disposto a fazer (pelo convênio),  mas pelo menos passaram por grande parte do trabalho de parto, coisa que nem puderam experimentar antes. A terceira delas está correndo atrás para realizar seu sonho e espero de coração que consiga, algo que era para ser tão natural.
O último relato que li num grupo de apoio ao parto, de uma moça que passou a gravidez toda defendendo o parto normal é de partir o coração, tantas intervenções que acarretaram num parto tão sofrido. 
Infelizmente não são histórias raras, acontecem todo dia, toda hora, em maior ou menor grau de violência mesmo no pequeno percentual de partos normais hoje em dia. Morro por dentro ao ouvir histórias assim, principalmente quando sei que era uma vontade da pessoa ter seu parto normal, levantou a bandeira mas não se informou o suficiente, não sabia dos seus direitos, não estava ciente dos protocolos invasivos, violentos e abusivos que ocorrem indiscriminadamente.
Não é o parto que é assassino, monstruoso, doloroso, sofrido. Jamais. O parto é um processo natural e fisiológico, uma transição que pode ser muito suave e bonita, de grande transformação e plenitude.
A forma como  parto tem sido conduzido hoje é que é muito desumana. E não pense que escolhendo a cesárea você se livra disso. Muitas dores podem vir daí também.
É grande erro, dos grandes, deixar escolhas nas mãos dos médicos. Ele vai escolher muito bem, o que é bom para ele. É outro grande erro não pensar no parto, não se preparar, não buscar informações, evitar saber de histórias "ruins". Elas acontecem porque existem vítimas, existem mulheres que se submetem, seja por medo, por desconhecimento, por comodidade ou seja lá o motivo. 
Você não vai se arrepender de buscar apoio ao parto humanizado, busque! O parto é SEU.

Há uma frase que diz: Se uma mulher em trabalho de parto não está parecendo uma deusa, é porque ela não está sendo tratada como deveria.


Espero que esse texto possa servir para alertar muitas mulheres, incentivar a preparação para o parto e busca por informações que com certeza vão fazer muita diferença.

Por Marcela Buchalla

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